quinta-feira, 3 de março de 2011

um estudante-trabalhador

A emigração faz parte da história do povo cabo-vediano, na procura de uma vida melhor, aventurando-se em terras estrangeiras, cheios de projectos e de sonhos na bagagem. Por todos os cantos do mundo encontra-se um cabo-verdiano a viver.

Se a emigração cabo-verdiana para os países de África assume um carácter forçado, já para os Estados Unidos, iniciada em fins do século XVII, relaciona-se com a passagem dos baleeiros americanos pelos portos do arquipélago fixando-se em actividades industriais e agrícolas, em cidades como New Bedford. As restrições impostas à emigração para os EUA levaram à pesquisa de novos destinos com destaque para a Europa Ocidental onde os elevados níveis de crescimento do pós-guerra justificavam o recrutamento de mão-de-obra exterior. 
Portugal serviu de plataforma giratória para outros países como Holanda (Roterdão) e mais  tarde França, Luxemburgo, Itália e Suíça. A Espanha tornou-se também, no início dos anos 70 um destino para os cabo-verdianos ao fixarem-se na zona mineira de Léon,Madrid e Galiza.

Mais tarde o motivo para emigrar já não era apenas a procura do mercado do trabalho. Os estudos e a vida universitária começaram a ser outra causa da saida dos caboverdianos para paises estrangeiros, como Portugal.

Faz parte do povo das ilhas procurar sempre a cultura do saber. São muitos os que assim distinguiram nos varios ramos do saber, desde da escola primária até às instituições universitárias. O aluno cabo-verdiano sempre marcou a diferença e foi reconhecido pela sua dedicação aos estudos.

Hoje em dia, o panorama é diferente. Aventurar nas instituições universitaria já não depende apenas de dedicação e nem de estudos. Depende daquilo de que ninguém consegue viver sem ele - o DINHEIRO.
O número daqueles que sonham em fazer uma formação universitária aumentou de noite para dia. Mas viver sem uma formação superiror é cada vez mais dificil. É necessária uma qualificação para poder conseguir um bom emprego, etc. Mas poucos são aqueles que coseguem uma bolsa de estudos para entram na universidade.
O resto, ou seja, a maioria apenas consegue uma vaga. Cabe aos pais pagar os estudos. E aqueles que não conseguem porque não tem qualquer posse? Não há outra solução, senão fazer um emprestimo bancário, pois, qualquer pai ou mae sacrifica para ver os filhos no melhor caminho. E o melhor caminho muitas vezes é ter um filho doutor.

A realidade é essa, a crise a nivel global chegou. Atingiu várias areas e os emprestimos bancários estão cada dia mais dificieis. Estudar no estrangeiro torna-se cada vez mais complicado e reduzido. Sair de Cabo Verde para quê (?) se existem instituições universitárias no proprio país.
Num certo ponto, quando se estuda em Cabo Verde, a realidade é diferente, as coisas são mais facieis. Há mais facilidade dos para mandar alguma coisa por parte dos pais, o povo tem o espirito de ajuda ou há casa de algum familiar. Há um espirito de fraternidade melhor do que a realidade que vivemos aqui na Europa. Em Cabo Verde onde come um, come dois ou mais. Assim diz a minha avó quando coloca a comida na panela: pa mim e proxim. Aqui não, cada familia tem a sua dificuldade e o egoismo é cada vez maior. Cada um por si, Deus por todos.

Mas lá vai o tempo em que as propinas eram baratas e que trabalhar apenas no verão chegava para pagar os estudos. Por lá já passou o governo, mas a crise obriga-os a aumentar a propina cada vez mais. A acção social é reduzida ou não há para estudantes estrangeiros. Quem os pode parar?
Não resta outra solução, segundo Juventude em Marcha, saca mom na contraband. Resta recorrer ao mercado de trabalho para poder comprir o objectivo que levou cada uma a sair de Cabo Verde -  fazer uma formação universitária de modo a ter um um futuro melhor, em vez de pegar na enxada ou correr atras das cabras e vacas no campo, ou quem sabe ser um simples pedreiro ou carpinteiro. Mas trabalhar exige responsabilidade e assiduidade. Num modo geral, o trabalho acaba por ganhar primazia em relação aos estudos.
É dificil (por experiencia própria) conciliar os estudos e o trabalho. Sem falar que na maioria das vezes o salário é precário que além de ser destina para pagar os estudos (propina, fotocópias, livros, etc), serve para pagar o alojamento, a alimentação, o passe dos transportes públicos e o café com os amigo.

É a realidade que hoje se vive. É a vida de milhares de universitários. E os caboverdianos que decidiram sair do país para aventurar no mundo universitário sem uma bolsa e sem recursos para pagar os estudos não fogem a essa realidade.
Ser estudante trabalhador tem o seu custo; tem as suas dificuldades e desafios. Mas ser o próprio encarregado de educação mostra um certo sentido de responabilidade e dedicação aos estudos. Por outro lado, a experiência de vida aumenta. Mas a força do povo das ilhas que assim decidem aventurar tem como meta estudar. Segundo um proverbio antigo, depois da tempestade vem sempre a bonança. E como diz Mourinho: não dificuldades, há desafios.

Na maioria das vezes, a adaptação aos metodos de ensino universitário é complicado e muitas vezes os anos de estudos aumentam. Para um estudante-trabalhador os anos de estudos aumentam sempre.
(continuação)